quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

seiva da vida


"- Você tem saudade do seu pai - disse ela. - Ele era bom. Veio aqui uma semana antes e eu senti uma coisa. Nenhuma certeza. Acontece o tempo todo. Alguém passa os flocos de milho, a sopa: nada. Aí entregam alguma coisinha e eu levo um tranco, de tão carregada a coisa. Não é um recado. Vão dizer que é um recado, mas está errado. O que se é, se a gente presta atenção, bastante tempo, é que dá pra ler a coisa. Ler a seiva. (...)
- Tem seiva que é boa -- disse ela. - Tem seiva que é ruim.
Ele concordou com a cabeça. Houve um raio e um trovão."
A história de Edgar Sawtelle - um menino sem voz num mundo de homens e cachorros (POPCORN CORNERS, 287).

Seivas ruins e boas. Seivas que existem; que existem no mundo inteiro; que existem em todos nós. Seivas que sentimos sim às vezes, mas encaramos apenas como sensações bobas, arrepios bobos por causa do vento, ou um mal estar por não ter comido. Resolvemos mascarar as seivas para sentirmos a ilusão do alívio de seus honrosos pesos sobre nós. Mas do que isso adianta se elas ainda continuam lá? Se elas não deixam de existir simplesmente porque nos cegamos para elas?
Elas ainda estão lá. Intimidando tudo e todos. Exalando seus sabores exóticos de vida. Translucídas a luz da alma. E, apenas, evitadas porque seus sabores são fortes, puros demais. Sabores puros de sentimentos reais. Sentimentos igualmente fortes, capazes de revirar estômagos, capazes de ferir e deixar marcas em nós. Mas também capazes de fazerem voar, de liberdade suprema, de felicidade pura e sincera. Sentimentos puros da seiva pura da vida.
Só tememos a seiva da vida porque sabemos que não ha luz sem sombras, e vice-versa. Porque somos tolos, e ridiculamente despreparados para recebermos algo tão puro. Seria como um chute no estômago, um soco na face e vertigens eternas. Bobos, despreparados, medresos.
Como pode haver medo da seiva da vida? Como algo tão puro pode causar tanto pânico? Que tolice.
Ouse! Experimente. Dói, machuca, sim! É puro, é muito real, é forte. Vale a pena.
Porque? Simplesmente porque depois do inverno tem o verão, depois da chuva ha o Sol, e assim a lista segue incasavelmente.

O meu aviso para aqueles que arriscarem a provar: o sabor é incrível.

Beijos, Ks.

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