sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

corra, Lola, corra

a tua cômica cena
eu bordo nesse poema 
o teu ventre vazio 
eu desfaço fio a fio
aquele teu rancor
aqui não deságua, "meu amor"
tua infantil fúria
guarde pra quem a ature
eu quero é ser livre
cansei de ser amarrada 
presa sem cordas
falando sem voz
marionete do seu jogo fugaz
alimentando um ego
que não sabe se sustentar
fujo esbravejando o peito em vento 
corro sem me preocupar
com você e tanto desalento
nessa cama tão solteira
você não vai mais se sujar
pode chorar...
já conhecemos o seu drama
ele já passou
tão démodé

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

meio desistindo

eu na minha
você na sua
e a vida continua
amanhecem os dias
não para a rotina
gente nova a cada esquina
um buraco no peito
deveria ser visto
como um alívio sem culpa
mas meu corpo reluta 
e as lágrimas não caem 
porque o fim, como sabem,
é sempre esperado
previsível esse final tosco
sem gosto 
escroto
recheado de dor e desmerecimento
recheado daquilo que você 
nunca pode me dar
e nunca deu
nem tentou
...me amar
fiz um descompasso 
desformado 
sem ritmo
raso
como os dias gastos
ao seu lado
em que eu sonhava
relembrando o gosto de vida
mas era eu mesma
que me enganava
sob falsas esperanças sapateava
tentava traçar essa dança
sem graça nem sentimento
algo que só vem do meu adentro
que só alimentam o amor
que não é meu
e desvalorizam quem eu sou
fui feita para ser só 
e assim se fez 
o meu casamento
com a solidão 
da impossibilidade 
de realizar a concretude
destes sentimentos
tão aeroplanos
safados
que me enganam
e me afugentam
mais uma vez:
caí na minha própria peça 
mal formulada
sem encaixe
toda estragada

domingo, 22 de novembro de 2015

love is a losing game


Vivo uma batalha diária. Em uma sociedade aonde se abrir, escancarar seu coração e se expressar é sempre visto por óticas negativas. Então, as pessoas se fecham e vivem jogos de adivinhações e se repelem ao mesmo tempo que desejam estar juntas e resolvidas. Nesse mar de desentendimentos tento ser o farol que grita suas emoções - por mais turbulentas e estranhas que sejam.
Sigo só, mas em paz. Comigo mesma, com outras pessoas, por saber que me esclareci mas decepcionada por ser repelida por essa doença secular aonde se apaixonar é proibido e evitável. Ainda mais por assumir um amor.
Estou fadada a perder essa guerra porque não preencho os requisitos para disputá-la, mas eu prefiro estar a margem e não me enquadrar nessas delimitações distorcidas.
A sinceridade não acontece e fico perdida nesse lapso de tempo-espaço injusto, mas que abre outra dimensão aonde minhas atitudes permitem o encontro com pessoas assim como eu - abertas.
E vou caminhando sozinha por aí, sem presunções, sem expectativas, sem imaginar como vai acontecer o próximo esbarrão na esquina seguinte, mas com o alívio no peito de que sou uma louca que vai contra a maré da sanidade que nos faz perder nós mesmos e de nossa humanidade.

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

a gente fica mordido, não fica?

a hora é já, meu amor
e eu estou cansada
de te esperar, de me rearranjar
e, principalmente, de ser encaixada
nessa sua agenda que me esquece
dos seus planos que me atropelam
e perpassam pelo meu corpo frio
que ainda ousa em lhe beijar
e meu coração tende a armazenar
todo o meu calor - aquele destinado a você
suas risadas nervosas não encobrem
as marcas que a sua ausência me faz
os assuntos variados não suprem
o desejo de ti que não satisfaz
e mesmo quando estamos tão próximos
tão juntos, tão conectados,
sou mordida pela lembrança
que em todos os outros momentos
me sinto vivendo apenas por mim
alucinando sobre um amor
com sabor de pimenta doce

domingo, 6 de setembro de 2015

transcendendo-me


Minha literatura é dos emergentes, dos necessitados, dos que precisam gritar aquilo que sentem, que os sentimentos são tantos que até os sufocam, é daqueles que não sabem como mas a cada novo dia se descobrem capazes de amar.

Às vezes num simples detalhe como a luz comprida que escapa do sol e chega a mim, tangendo, tocando e deslizando seu oi tímido mas sempre acalorado... Eu vejo esses detalhes e sinto vontade de chorar, pois tudo aquilo que eu construí e remodelei é inundado por essa simplicidade tão linda e sublime que é a vida.
Porém, como uma arritmia, lembro-me que em outros lugares, em diferentes vidas, pessoas morrem, começam-se guerras e essa beleza se esvai... Até a tristeza tomar conta do espaço aonde só havia plenitude. E também choro, de dor, de raiva, de não saber o que fazer com esse sentimento de impotência.
Uma borboleta passa relutante a minha frente, suas asas frágeis e tão seguras de si, cada batida é uma luta traçada e vencida perfeitamente contra o vento, pois quem dita o caminho é apenas ela - e sua liberdade! E fico sem poder escolher se sou aquela que sente a brisa beijando-me o rosto com delicadeza ou se sou quem sente-se inútil, uma sonhadora ingênua. Porque os meus olhos ao mesmo descompasso que enxergam a vida tão intocável e tão real, também veem essa vida tão crua e tão desumana.