quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

moça

A moça era bem simples. E quieta. Às vezes até demais.
Falavam por trás dela; que vivia a guardar um segredo. Ninguém sabia o que poderia ser o tal segredo, mas tinham a certeza de que havia um. Claro, ela sabia que falavam dela, e sobre o que. Mas pouco se importava.
Toda sua atenção era voltada às cartas. Amava seu trabalho. A moça era consumida pela rotina e por selos. Mas fazia isso com a maior atenção e carinho. Derretia-se imaginando o que estariam mandando. Cartas de amor? Revelações? Testes de DNA? Ou de alguma doença terminal? Camisetas? Presentes obscenos? Perdia-se dentro de si mesma em tantas suposições. Achava o dia inteiro. E era assim sua vida. Cheia de achar.
Não lhe importava de quanto marasmo o dia pudesse estar carregando, abria um sorriso e estava sempre disposta ao próximo cliente. Sentia o sabor das cartas, o peso de suas palavras, a distância de suas saudades, e a impaciência para que chegassem logo às mãos de seus sortudos donos. Olhava as pessoas nos olhos, procurando alguma pista sobre a história da carta, sobre a história daquele elo. Nem ao menos se importava que fosse um elo comercial. Ficava em êxtase de pensar que o destinatário e o remetente talvez nunca chegassem a se conhecer realmente.
E, apesar das ene suposições maldosas dos outros, nunca chegaram a descobrir seu segredo. Se é que havia um. E mesmo sem nenhum segredo descoberto continuaram a viver falando dela. Então, fez-se dela memorável. Moça bem simples. E tornaram-na memorável.
Porém, a verdade, é que ela ansiava por um destinatário. Por uma carta sua, e alguém tão especial que lhe desse o prazer de escrever e enviar uma.
Simples, assim como ela. Um desejo quieto, não um segredo.

Isadora Peres
Odeio mesmo os meus contos. E ainda posto. Às vezes me odeio.

13 comentários:

  1. oin que bonito Isa, SÉRIO, encantador ! só tive vontade de te bater com você xingando seus contos ... são ótimos menina boba *-*
    e Isa, achei um amor teu comentário e tô me perguntando até agora sobre suas suspeitas ... rs mas enfim, foi uma das coisas mais inteligentes que eu li ontem aquele seu ' MAAS ' haha até que enfim alguém pensando igual a mim :*

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  2. Hahaha, que nada Carol linda! É o minimo. Sabe, é foda explicar certinho o que os amores e suas desavenças causam na gente MAS né, haha, a gente tenta e também continua tentando amar. E ainda detesto meus contos. Ai.

    Beijos, linda <3

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  3. Não tenha ódio do que escreve. Vem da tua alma, do teu eu. Adorei o conto, adoro o que escreve.
    Dá próxima vez que eu ver você falar mal de seus contos eu lhe pego. HAHAHA'

    Flores!

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  4. De vez em quando não gosto do que eu escrevo, mas mesmo assim agrado os leitores. Da mesma forma você, não gostou do que escreveu, mas me agradou. Foi um modo diferente de escrever. Gostei de ver, Isa. (:
    ;*

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  5. ôuxi, nem me fala de carta e selo, eu tenho que ir correndo no correio até sábado de manhã postar umas coisas *-*
    eu gosto muito dessa coisa de correspondência, o que mata é a curiosidade e a demora '-'

    beijas, Í. :*
    []'

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  6. "Então, fez-se dela memorável. Moça bem simples. E tornaram-na memorável."

    *--*
    Você é incrível. E eu digo: entendo isso de não gostar dos contos. Mas eles são seus, nasceram de ti, seus filhos-semente.

    Ama-os, e deixos voar.

    (voar livre nas páginas deste blog pra que eu possa lê-los sempre haha)

    Juro, adorei *-*
    Bjinhos.

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  7. Ao contrário de você não odiei seu texto, muito pelo contrário, amei, como sempre amo todos que leio, você tem uma maneira singular de escrever e isso me aprisiona a ele blog de uma forma inexplicável, o que é bom, não estou reclamando, pois aprecio cada momento, cada segmento de linha que leio, cada frase impactante ou simples que são de sua autoria. Parabéns.

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  8. Que texto lindo! Você odiá-lo é sinal de que é muito exigente. Ele é forte, é conciso, é obtundente e me fez pensar que o maior segredo de todos nós está em sermos nós mesmos.
    Beijo carinhoso!

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  9. Como você pode se odiar sua doida? Eu simplesmente amei esse. De verdade, achei tão profundo e sincero. Adorei o fato de não ser um segredo o que ela escondia, mas sim um desejo. Confesso que no início fiquei curiosa pelo tal segredo. Sério. Eu amei esse texto *-*

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  10. Como todos que bem escrevem você tem a grande mania de não valorizar o que escreveu.
    Mas é assim mesmo, então te resta ler as críticas e satisfazer o seu ego interno.
    E se tivesse o teu endereço, te enviaria uma carta dizendo-te que fora belíssima a descrição de tal simples moça.

    Um beijo.

    Te seguindo a partir de hoje!
    Aguardando novos contos!

    www.paposesupapos.com

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  11. Ai gente, me senti até uma chata sem alça agora. rs. Poxa, com tantos comentários assim como vou discutir sem parecer maisss chata, hein? HAHAHA.
    Enfim, que bom que agradou a vocês!
    Beijos enooormes à todos! Como sempre essênciais <3

    Tô seguindo os novos e ainda esperando o F. rum. haha!

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  12. Só que falta mesmo, né dona Isa?! Escrevendo tão bem quanto escreve!
    Amo seus contos, e adorei esse em especial! Simples, doce, melancólico mas esperançoso. De uma beleza única, que só você consegue fazer.
    Deixe de ser boba, você é ótima com contos!

    Beijos.

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